21 de fevereiro de 2015

Sobre o Golpe travestido de Impeachment



Estou aqui lendo os noticiários e isto me chega aos olhos:

"Em manifesto, intelectuais denunciam golpe"

Não é necessário ser um intelectual para identificar o golpe em andamento  Basta ter dois neurônios com capacidade autônoma de crítica e análise do contexto e conhecimentos parcos em história e política para embasamento. E também não se reduzir a passivo telespectador da mídia de uma classe senhorial que domina esse país há cinco séculos, agenciando continuamente seu atraso e sustentando suas mazelas históricas a custa de seus exclusivos interesses e privilégios corruptos, furtivos, segregatórios, latrocidas, ilegítimos e condenáveis. É questão de não se rebaixar a mero gado subalterno televisivo desses setores e saber discernir, de um lado o jogo partidário democrático,  em contraposição a de outro lado, um golpe de Estado explícito (mais um na história muito recente deste país) montado sobre personagens seletivos de um sistema político-econômico corrompido. Também não se trata meramente de justiça, palavra tão vaga nesse país tão jovem de cinco séculos, quatro deles sob a chaga da escravidão  (auge incomparável e incomensurável de corrupção) e mais um de suas permanências e marcas profundas excludentes em nossa débil sociedade. Não se trata portanto de vazia partidarizarição bipolarizada ou mera inclinação ideológica, mas de consciência cidadã política acerca de repetições históricas que podem estar por vir. Trata-se de não ser novamente massa de manobra flutuando sobre o esgoto da história, mas de saber exercer a capacidade minima da leitura sobre o contexto de um filme já visto muito recentemente, como em '64. Lembremos: a urgência da reforma política explicitada após Junho de 2013, que foi pauta das campanhas eleitorais, foi simplesmente jogada na latrina do esquecimento pela mídia senhorial (obviamente) e em seu lugar foi projetada uma campanha eleitoral reacionária e falsamente moralista que se converteu no congresso eleito mais conservador desde a ditadura, e injetado no ideário do senso comum popular mais outro teledramatizado caso de corrupção numa estatal (a Petrobrás, mas só sob a gestão atual), a qual aliás vinha batendo recordes de produção e faturamento, com políticas protecionistas (efetivas ou nem tanto) do governo reeleito sobre o (lamentável e destrutivo) negócio energético petrolífero e com proposta de inédita reforma educacional e da saúde com grande porcentagem deste insumos, a qual teve forte tentativa de veto pela mesma direita que articula agora explícito golpe de Estado sob estratégia de crise induzida por via midiática no setor econômico estratégico do petróleo, deixando claro quais interesses e de quais setores é que estão em jogo. Reformas que deveriam cobrir todas as instituições, a começar pelo judiciário. Como se pode falar em combate à corrupção quando o judiciário de um país com uma história como a nossa é uma casa explícita e assumidamente partidarizada e de propriedade tucana? (como mostram os fatos de todos os casos de corrupção desta ala engavetados pela ju$tiça e silenciados pela mídia senhorial). Este governo, mais um também estabelecido dentro de um sistema histórico corrompido, apesar dos pesares foi eleito democraticamente, e nossos problemas nacionais tem pauta sim (esvaziada e remanobrada pela mídia, ao contrário do que a mesma tenta fazer esvanecer sob o golpe de discurso único, contínuo e monotemático do tal petrolão), e um curso de correção bem definido, levantado e pautado pela esquerda e demais setores progressistas, com início, meio e fim, a derrubar obviamente os privilégios criminosos de setores sinistros históricos supracitados. É um momento de ter a mínima noção de que não se deve comprar automaticamente a opinião ditada pelo televisor (que se desenvolveu durante seu período de apologia e sustentação à ditadura e se estabeleceu hegemonicamente com órgão dictatorial de formação de opinião), ampliar o debate e dialogar muito sobre política, economia, sociedade e natureza, inesgotável e incansavelmente sobre tudo e com todos, com fontes de informação multilaterias e expandir a capacidade de formação de opinião autônoma ao invés de lacrar o senso critico em um momento tão pútrido e frágil como este. Nas estradas, nas ruas, campos, construções... Quem sabe faz a hora, já dizia o poeta.

(RL)