29 de maio de 2011

Via de Regra


Entendo os garotos que se recusam à freqüentar escolas, assim como os velhos que relutam à visitar os médicos, se escondendo de prováveis doenças.

Muito poucos tem a certeza pungente dentro de si sobre aquilo que são e do que lhes cabe na vida e no mundo.

Quiçá uma nebulosa porém fiel intuição do caminho, ao contrário destes aí, seguros e mornos, flutuantes amebas no intestino do organismo de sua sociedade.

Pudera eu ser mais eu do que creio ser nesse momento.

Pudera transcrever tal condição em afirmativa no meu livro de verdades, caso não fosse esse maldito e sensato gosto de fel que me borra a língua e o pensamento ao me forçar à provar tal engano.

Veja os cães correndo atrás dos carros, como são felizes. Observe a criança lhes arremessando o graveto. Você ousaria tentar entendê-los?

A harmonia entre a mão, o graveto, o cão e a roda é inexplicável pelo simples fato de não requerer explicação nem teoria.

Não existem teorias no campo da felicidade.

Garotos fugitivos de escolas talvez o tenham descoberto tão antes. Que por via de regra nada se aprende. Ou melhor : que nada se descobre, ou que se conquista.

Que apenas simplifica-se possíveis mistérios já revertidos ao óbvio pela própria lei da natureza através de algum homem ex-garoto-detento-fugitivo.

Sua única lei é “sua própria natureza”. E sua natureza preservada e não violada sempre será marginalizada por via da “regra”.

Quanta genialidade é vedada pela via da regra?

Marginal, por via de regra. A voz no comando: “- Não fuja da estrada nem sai da linha, ou estarás sempre à margem, garoto!”. Marginal, por via de regra.

À margem do quê?

Entendo os garotos que se recusam à freqüentar escolas, assim como homens que não se dobram à nenhum tribunal.

Entendo os garotos que fogem da escola, assim como o animal livre que resiste à puxar fardo e à ruminar a vida num imenso curral. Pra morrer de joelhos no abate final.

Garotos em fuga, cachorros de rua e cavalos selvagens. São almas aladas.

Entenda-os, se puder.


(RL)

3 comentários:

Manassés disse...

Entendo um garoto que entende aqueles garotos que fogem da escola; mas talvez eu não entenda o seu pensamento em sua plenitude.
Entendo o garoto, pois acredito que ele só pode entender os outros garotos, pois ele passou pela escola...ele aprendeu a deixar de ser ignorante e com isso aprendeu um pouco sobre humildade; ao menos aprendeu que quanto mais se pensa saber, menos se sabe de fato.
O garoto que vê na liberdade a felicidade que reivindica o direito de pensar; esse garoto vive a margem do senso comum, pois foi educado para pensar.
Se aprende pensar na escola? E pensar livremente, se aprende fora dela?
a.k.a, onde aprendeu a pensar em criaturas aladas?

Manassés disse...

http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/920404-paulo-lima-1924-2011---professor-de-fisica-e-cacador.shtml

RL Bonx disse...

Fala Manassés, esqueça qualquer pre-ocupação com estruturalismo, lógica ou afins, o rabisco postado é non sense, tava na gaveta há tempos e veio aos olhos nesses dias, de encontro a algo que tenho me confrontado diariamente: o famoso "ranço acadêmico". Sobre a pergunta das criaturas aladas, tenho-as pensado quando visito a Terra do Nunca entre as 01:00 e 06:00 am de minha vida medíocre, rs. Abraço, banguelo amarelo!